Na atual Rua do Grilo existiram, em tempos, dois conventos. Um para freiras e outro para frades, designados por “Grilos”, por pertencerem à congregação dos Agostinhos Descalços e terem vestes negras com capuz. Os dois edifícios ficavam virados para a antiga Rua Direita, mas o edifício das freiras prolongava-se em direção ao Cais do Duque, no Beato.
Falemos primeiro do convento das Carmelitas, mais conhecido pelo convento das freiras “Grilas”.
Freiras “Grilas”
O convento, erigido nos terrenos da antiga Quinta de Gonçalo Vasques da Cunha, ficava no local onde está instalado o edifício principal da Manutenção Militar. Foi fundado em 1660, pela Rainha D. Luísa de Gusmão, esposa do rei D. João IV, que nele se recolheu em junho de 1662, ali permanecendo até à sua morte, ocorrida, em 27 de Fevereiro de 1666. Segundo cronistas da época, a Rainha D. Luísa de Gusmão ter-se-ia recolhido no convento das freiras “Grilas” por estar desgostosa com o rumo político do país. Os conselheiros do rei D. Afonso VI, seu filho, teriam aconselhado a repulsão da Rainha da Corte devido à adversidade política que manifestara com o filho.
Nas palavras de Alberto Pimentel, o convento das “Grilas” era “vasto, sem que, todavia, nada tenha de monumental. As Agostinhas Descalças não ostentavam pompas monásticas e no interior do convento há todo o aspecto de uma clausura severa: longos corredores sombrios, cellas estreitas e mal iluminadas”. O convento era disposto em três alas, formando um claustro quadrado, cujo lado sul era delimitado pelo Tejo.
O grande terramoto destruiu quase todo o convento que, posteriormente, chegou a ser reestruturado, embora a igreja tivesse de ser reconstruída de base.
Durante o período da revolução industrial, o convento sofreu profanações e a sua estrutura foi alterada para poder ser adaptado a outros fins.
Em 1888, após a morte da última freira “Grila” e da transladação dos restos mortais da Rainha para o Panteão Nacional, foi ali instalada a Manutenção Militar, nada restando hoje do antigo convento e da igreja.
Frades “Grilos”
O Conventos dos Frades “Grilos” situado junto da atual igreja do Beato e onde funciona o Recolhimento do Grilo, na rua com o mesmo nome, foi também fundado pela rainha D. Luísa da Gusmão, em 1666, pouco tempo antes de falecer. A rainha ordenou a fundação do templo sob a invocação de Nossa Senhora do Monte Olivete, para a congregação dos Agostinhos Descalços. Um grande incêndio, em 1683, destruiu toda a igreja e grande parte do convento, mas a reconstrução foi feita quase de imediato.
O terramoto de 1755 causou-lhe graves danos, valendo o facto de não ter originado um incêndio, o qual poderia ter contribuído ainda mais para a sua degradação. Posteriormente, foi mais uma vez reconstruído.
Com a extinção das Ordens Monásticas, em 1834, o convento, que já não tinha frades desde 1829, serviu de albergue para os idosos do Recolhimento de Nossa Senhora do Amparo, que tinham estado na Mouraria. Anos depois, o albergue passou somente a designar-se de Recolhimento do grilo.
Uma lápide, de azulejos com legendas em latim, visível à entrada do Recolhimento, dava-nos conta do seguinte:
EL REI
O SNR D. JOÃO. O 3.º FOI INSTIVIDOR DESSE COLLº
NO ANNO DE 1546. EL-REI
O AUGUSTISSIMO SNOR D. IOZE 1.º FOI O FUNDADOR
DO DITO COLLÉGIO NO ANNO DE 1753 SENDO SEU
SECRETÁRIO DE ESTADO E INTERCESSOR DA
O BIZADELLE O ILLUSTRISSIMO E EMMº DIOGO DE MENDONSA CORTE REAL
PROVEDOR O Pe. IOZE FERREIRA DE HORATA DEPUTADO
DA MEZA DA CONCIENCIA E ORDENS
E REITOR O Pe. IDÃO DE SAA PEREIRA FREIRE PROFESSO
NA ORDEM DE CHRISTO
As paredes do templo estavam revestidas a azulejo e o teto ornamentado com desenhos, em estuque, de figuras e legendas em relevo. Num dos cantos poder-se-ia ler “Feito em 1746” e, do outro lado, “Retocado em 1870”.
Os amplos corredores mantinham o aspeto conventual e davam acesso às celas dos frades, cujas portas eram encimadas por azulejos com legendas em latim.
Aspeto curioso é que, segundo a tradição popular, existiria uma comunicação subterrânea entre os dois conventos do Grilo, o dos frades e o das freiras. As obras efetuadas nunca tal confirmaram.
No convento do Grilo esteve instalada, a pedido do povo, a sede da Paróquia de S. Bartolomeu, em 1835.